Marllus
Marllus Cientista da computação, mestre em políticas públicas, professor, poeta, escritor, artista digital e aspirante a tudo que lhe der na telha.

A liberdade e o outro em Sartre

A liberdade e o outro em Sartre
Shadow Art - Tim Noble/Sue Webster

Como Jean-Paul Sartre (1905-1980) foi um filósofo existencialista, defendia que a existência do ser humano vem antes de sua essência, sendo moldada, portanto, sempre pelas ações próprias do indivíduo ao longo da vida, e não a partir de uma bagagem cultural prévia, como falaria Platão - em Sócrates -, com seu conceito de reminiscência ou a defesa de que o conhecimento lembrado é só um relapso do que já foi vivido pela alma - essa, por sua vez, imortal.

Então, a liberdade em Sartre, de fato, configura um paradoxo, pois a existência do ser faz jus à tentativa de buscar a superação dos limites impostos pelos outros - que também são “livres” -, ou seja, é pelo olhar dos outros que nos reconhecemos e, ao mesmo tempo, nos limitamos. Essa relação transborda-se em uma falsa sensação de poder decisório.

Hoje, o sentido da competição é o que impera na sociedade neoliberal. Junto a isso, soma-se a forma padronizada dos costumes - as ditas regras sociais -, que é imposta pelo sistema econômico à massa (do outro para com o outro e vice versa). É perceptível o sentimento de potência do ser ao querer galgar o pico da pirâmide socioeconômica, a fim de obter, primariamente, o sucesso social: a fase onde se está ‘validado’ pelo olhar do alter - do outro. É o indivíduo intersubjetivo sartriano. O outro te levou a escolher ser como é - processo em grande parte inconsciente.

Para Sartre, o outro se reconhece como ser a partir do olhar do outro, ou seja, como ele mesmo falaria: o outro é o mediador indispensável entre mim e mim mesmo. Se esse filosófo elege o auter como a única forma de atingir o auto conhecimento, então o indivíduo está condenado a ser livre. Condenado porque o ser não se cria a si mesmo e livre porque é responsável pelas próprias escolhas - e não há como não escolher. A percepção desse enclausuramento gera a pura angústia.

O inferno nunca foi tanto os outros, como hoje o é.