Marllus
Marllus Cientista da computação, mestre em políticas públicas, professor, poeta, escritor, artista digital e aspirante a tudo que lhe der na telha.

Quando o WhatsApp acabou

Quando o WhatsApp acabou

De manhã cedo, acordei…
Peguei no celular, nenhuma notificação. Verifiquei o link de internet acessando um site qualquer. Estava beleza. O mito então era mesmo verdadeiro.
Liguei pra um amigo, conversei sobre o projeto pra entregar e depois ele me contou uma estória que ocorrera com ele na noite anterior. Altos papos. Muitos risos para começar o dia.
Banhei, nenhuma notificação, me arrumei, nenhuma notificação, tomei café, nenhuma notificação, assisti tv, nenhuma notificação, me preparei pra sair de casa e aquelea merda de notificação não vinha. Droga. Cadê a galera?

Peguei o carro e alavanquei no trânsito infernal, daqueles que a gente pára a cada instante pra olhar o WhatsApp e trocar gaitadas nos grupos.
Mas hoje não tinha ninguém, uma alma viva sequer.

Cheguei no serviço e lembrei de um recado que precisava dar para minha mãe que mora em outra cidade. Em sequência, me veio o cancelamento do WhatsApp. Resolvi ligar e falar com ela. Fazia tempo que não ouvia sua voz, meiga e cheia de saudades de mim. Aquilo foi revigorante, de fato.

Passei a manhã visitando as salas dos amigos de outros departamentos, que faziam parte do grupo do WhatsApp do trabalho. Falamos sobre o cancelamento do aplicativo e ao mesmo tempo sobre a futura confraternização da empresa. Aquele ambiente profissional, antes silencioso e quase sem nenhuma roda social (tocável), estava alegre e prazeroso de se falar, ironicamente, quase como um grupo virtual. Aproveitei e conversei com um carinha que não falava com ninguém (ou ninguém falava com ele). Aprendi seu nome e em qual projeto estava trabalhando. Ele já estava lá há 3 anos. Putz.

Fomos almoçar. Imagine aí as brincadeiras e gargalhadas, os chats reais ativos…. que sensação aquela. Fazia anos que não a sentia. Desde aquela época em que sentávamos nas calçadas do bairro memorare.

Uma reflexão, fatalmente, veio à tona.

A comodidade de ações toma conta de nosso modo em grupo. A rapidez de um pálido “kkk” ou um emoticon chorando de rir nos emagrece socialmente. Todas aquelas pessoas com quem eu estava conversando pessoalmente, todos aqueles seres cheios de luz e energia olhando e mostrando verdadeiros “KKK’s”, era quase como não acreditar que estivesse acontecendo. Que louco, que hilário. Um tapa mais genuíno que já recebi na minha vida.
E o mais interessante foi que me dei conta disso tudo em uma manhã. Era a consciência pré trauma de uma pós ultra rápida abstinência.
De fato, revigorante.

Tudo isso me fez repensar atitudes. Todo um turbilhão passava na minha cabeça. Era a hora. Hora de me desfiliar de grupos virtuais que tomavam conta do meu precioso dia. Hora de rasgar as amarras. Voltar à realidade tão bela. A conversar olho no olho. A sentir o choro do amigo molhando meu ombro.

Olha aí, o Whats voltou.

E aí galeeeeeeeerraaaa!!
Boa noite, grupo.